Um Profeta entre nós: o legado de Papa Francisco
- dioceselivramento
- 8 de mai.
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Na manhã do dia 21 de abril de 2025, recebemos a triste notícia da morte de nosso querido Papa Francisco. Ele faleceu em Roma, às 07h35, horário local, aos 88 anos de idade. Nos últimos meses, vinha lutando com suas limitações de saúde, sem perder a lucidez e o bom humor. O Cardeal Jorge Mario Bergoglio, Jesuíta, natural de Buenos Aires, Argentina, foi eleito o 266º papa, em 13 de março de 2013, ficando 12 anos como Romano Pontífice.
Nesta Oitava da Páscoa, o Evangelho de Mateus apresenta-nos as palavras de Jesus a algumas mulheres. Elas que haviam deixado seu sepulcro, ao procurarem por Ele. “Alegrai-vos, não tenhais medo... ide anunciar” (Mt 28, 9-11). Diante desta manifestação do Cristo Ressuscitado, assim como tantas outras que ouviremos neste largo período pascal, somos convocados a reafirmar nosso crer na ressurreição, na vida que vem d´Ele, o Vivente. Olhando para a própria estrutura do universo, da criação, podemos constatar uma gramática de transformações geradoras dos planetas, dos seres vivos, de tantas criaturas. Em tudo, a vida se desponta como milagre sagrado, dom de Deus, que possui a marca crística, garantida pelo selo do Espírito Santo.
Jesus, o Filho de Deus, revelou que tudo isso que, de forma limitada, experimentamos em nossa vida e na natureza, são marcas que nos apontam para algo maior. A glória de Deus. Ele que, em sua existência terrena, passou fazendo o bem, foi crucificado pela maldade de poderes mundanos, venceu a morte, inaugurou o Reino de paz e justiça, reinado do mandamento do amor, revelou o governo divino sobre tudo e todos. E, como nova humanidade, mostrou-nos que nosso destino é a vida eterna, o paraíso que virá em plenitude, que já se faz presente através do mistério de sua ressurreição. Que alegria sentir essa graça que vem do Senhor, que, como fez com aquelas mulheres, também nos impulsiona a viver o amor em tempos de tantos desafios.
Neste clima pascal, envolvidos pelo Jubileu da Esperança, o Senhor da Vida recolheu nosso querido Papa Francisco. Seu legado profético foi uma manifestação clara de quem viveu envolvido por esta realidade pascal cristã. Em tantas situações, Francisco foi uma antecipação da glória celeste no meio das feridas de nossa civilização atual. Pensemos no nome Francisco, escolhido por Ele, opção clara pela simplicidade e pelo compromisso com os mais pobres. Disso ele deu testemunho sobretudo com sua proximidade com as pessoas, lavando os pés dos prisioneiros, abraçando os refugiados, condenando preconceitos em relação às pessoas homossexuais, sendo misericordioso etc. Mais que palavras, seus gestos foram fortes e quebraram barreiras. Combateu o privilégio das hierarquias católicas, exigiu transparência administrativa no Vaticano, foi firme no enfrentamento aos graves abusos de menores. Tudo isto mostra como ele justificou, no cotidiano, o porquê de sua escolha para ser chamado de Francisco.
Destacamos, ainda mais, o que ele nos deixou em seus principais documentos. Logo no início do seu magistério, publicou a Encíclica Evangelii Gaudium, a Alegria do Evangelho. Um texto que impulsionou a Igreja a ser uma Igreja em saída para as periferias existências e geográficas, com dinâmica sinodalidade. Restabelecendo seu ardor missionário como comunidade que anuncia a alegria do Evangelho, de modo especial na companhia dos descartados pela ganância humana. Há 10 anos, em 2015, deu-nos um grande e ousado presente: a Laudato Sì, sobre o cuidado da casa comum. Certamente, essa encíclica é sua maior novidade e tem contribuições inesgotáveis para os nossos dias. Nela o Santo Padre afirmou que atravessamos uma grave crise socioambiental, que tem raízes humanas, por conta de uma economia de morte, de um extrativismo que não respeita a criação. E fez a sua inovadora proposta que é: “a Ecologia Integral”. A saber, tudo está interligado no planeta terra e por isso temos que viver uma profunda conversão ecológica, a começar por optar pela sobriedade feliz, objetivando ocupar nosso lugar de guardiães da criação e não de destruidores da mesma. Durante a Pandemia da COVID 19, em 2020, publicou a Fratelli Tutti, sobre a Fraternidade Universal. Um documento que condena a guerra, a pena de morte, e propõe a luta por uma cultura do encontro. Uma civilização capaz de acolher os migrantes, promover o perdão, vencer todas as formas de ódio e construir a paz.
Rezemos pelo descanso eterno do Papa Francisco. Para que, junto do Bom Pastor Jesus, interceda a Deus pela Igreja que tanto amou. Para que ela, principalmente nesses dias, tempo de novas escolhas, possa continuar seu profetismo, sendo uma Igreja pobre, dos pobres, que saiba continuar combatendo um sistema global de morte, imposto pela ganância de uma minoria privilegiada. E não abra mão de escolher os escolhidos por Jesus para caminhar com eles, os pobres, os doentes, os refugiados climáticos etc. Cuidando, cada vez mais, da criação que sofre com tantas agressões de poderes econômicos destrutivos.
Enfim, que nossa Senhora do Livramento conceda à nossa Diocese uma acolhida real de tudo aquilo que nos deixou o Papa Francisco, em seus tantos exemplos que não podem sofrer retrocessos, em nome do Evangelho de seu Filho Jesus. Ele que, pela sua devoção mariana, escolheu ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em caixão simples, continue nos inspirando a ouvir o que ela disse naquela festa de casamento: “fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Um tudo que temos que ir descobrindo em cada passo de nossa história. Mas que, certamente, nestes dias não pode deixar de fora o empenho em ser uma Igreja sinodal, ministerial; a luta por uma civilização pautada no amor fraterno, sem discriminações e descarte da vida; e na defesa do nosso planeta terra, para que não corramos o sério risco de ficar sem o vinho da alegria que é Jesus.
Dom Vicente de Paula Ferreira




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