
Como a tradição bíblica documentou, a origem e fundamento da
bênção expressam valores religiosos profundos. Num mundo pós-cristão e
agnóstico que vem tomando conta da nossa época, eis que as expressões
religiosas, até as mais simples e familiares, passam por esta onda de
contestação ou, pior, de irrisão. Por isso, eis a necessidade de compreender
melhor para viver de maneira mais profunda gestos e expressões que podem estar
perdendo suas motivações.
Antes de tudo, é claro que somente Deus pode bendizer, Ele é
a nascente de toda bênção. Por isso, só a partir de uma séria e profunda
experiência de Deus, pode-se recuperar o sentido da bênção. Nietzsche afirmava:
“De súplices devemos nos tornar bendizentes”. Não discutimos o sentido da frase
dado pelo filósofo. O ser humano é somente ‘súplice’; só Deus, o Senhor da
vida, pode bendizer! Porém, o ser humano recebe de Deus este poder. Os pais,
sobretudo pelo ministério recebido com o Matrimônio, têm este poder; os
sacerdotes, pela consagração ministerial, são investidos por esta graça; todo
batizado – crismado, também, possui a força divina que é chamado a partilhar
com os demais, cada qual segundo o dom de graça que recebeu.
O Catecismo da Igreja
Católica (n. 2626) escreve: “A bênção exprime o movimento de fundo da
oração; é o encontro de Deus e do homem; nela o dom de Deus e a acolhida do
homem se chamam e se unem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de
Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode bendizer aquele que é a
fonte de toda bênção”.
A Igreja possui um Ritual de bênçãos (1984) que orienta a
respeito do sentido das bênçãos e proporciona expressões para realizá-las.
Encontramos bênçãos de pessoas (ex. das famílias, de enfermos, antes e depois
do parto, de noivos etc.); bênção de lugares (ex. da nova residência, novo
hospital, escritório, fábrica, plantações, campos etc.); coisas (instrumentos
de trabalho, bebidas e alimentos, terço de Nossa Senhora, escapulário etc.). O
Ritual recomenda que cada bênção deve começar com a escuta da Palavra, para dar
sentido aos gestos e não cair na magia ou num ritualismo vazio. Na liturgia,
ainda, encontramos tantas expressões de bênçãos. “Duas formas fundamentais
exprimem esse movimento da bênção: algumas vezes ela sobe, levada no Espírito Santo por Cristo ao Pai (nós o bendizemos por nos ter abençoado); outras vezes
ela implora a graça do Espírito Santo, que, por Cristo, desce de junto do Pai (é
ele que nos abençoa)” (CIC, 2617).
Observamos que nas bênçãos destaque especial têm as mãos.
Essas se pousam sobre a cabeça na ordem como na Penitência, na Crisma como
invocando o divino Espírito na Eucaristia; a mão traça o sinal da cruz na
fronte ou na pessoa como gesto que invoca a efusão da plenitude da vida divina.
A mão aberta é gesto para doar, acolher, partilhar...
Entre todas as bênçãos, especial realce tem a com o
Santíssimo Sacramento, com o Corpo do Senhor: deve ser vivida e acolhida em
atitude de profunda oração e adoração.
Dom
Armando