O
tempo pascal representa para os católicos um momento especial. O que os textos
litúrgicos nos colocam?
A solenidade
da Páscoa é celebrada como o primeiro de sete domingos todos ‘pascais’. Antes
da reforma litúrgica do Vaticano II falava-se em ‘domingos após a Páscoa’;
agora destaca-se a unidade desse tempo e a continuidade da celebração do
mistério pascal.
Nos textos
litúrgicos retornam as palavras alegria, júbilo, felicidade. A nascente de tudo
se encontra na vitória de Cristo sobre a morte. Por isso, a Oração da II feira
depois da Páscoa reza: Transborde em nossos corações, Senhor, / a graça do
sacramento pascal / e tornai dignos dos vossos dons aqueles que fizestes entrar
/ no caminho da salvação eterna. No dia seguinte, pede-se a Deus: preparai os
corações de vossos filhos / que enriquecestes com a graça do batismo, para
merecerem a felicidade eterna.
É uma explosão
de vida, de esperança e de futuro que já irrompe nos que acolhem o Senhor e
pretendem viver acolhendo seus dons batismais: pelas festas que celebramos na
terra, mereçamos chegar às alegrias eternas, diz a ‘oração do dia’, na quarta
feira da primeira semana.
Esse Tempo
pascal continua até a solenidade do Pentecostes, plenitude do dom do Espírito e
início da missão da Igreja enviada a testemunhar essa alegria pascal pelas
estradas do mundo. No quadragésimo dia, na quinta feira da penúltima semana,
celebra-se a festa da Ascensão do Senhor ao céu, festa que, no Brasil, é adiada
ao domingo seguinte. A liturgia proporciona aos seus filhos e filhas o dom de
respirar, com os pulmões da Palavra e da Eucaristia, o sopro santificador e
transformador do divino Espírito.
Como
as comunidades católicas podem vivenciar esse tempo litúrgico?
Os cristãos
que, ao longo da Quaresma, viveram com intensidade espiritual o mistério pascal
do Senhor já amadureceram uma espiritualidade transformadora, isto é, tornaram-se
disponíveis no seguimento de Jesus, fiéis à Palavra, compenetrados pela
Eucaristia e pela força do Espírito.
Os cristãos
católicos são chamados a viver não só a liturgia que celebram, mas, sobretudo,
da liturgia do que nela se propõe e se experimenta. A alegria pascal não é
superficial entusiasmo, nem sentimento passageiro. Ela se alicerça na fé que dá
novo alento nos acontecimentos cotidianos. À escola da liturgia, portanto,
devemos aprender a sermos acolhedores, como Ele nos acolhe; capazes de dar perdão,
como o Senhor nos perdoa; disponíveis à escuta nos encontros e contatos com os
irmãos. De fato, como podemos dizer que escutamos o Senhor (que não vemos), se
não formos capazes de escutar o próximo (que vemos)? A liturgia do tempo pascal
é repleta de luz e de paz. Vivamos, portanto, essa alegria – dom do alto – e
sejamos disponíveis à partilhar o que somos e o que temos, com humildade,
sinceridade, coerência nos acontecimentos que a vida nos proporciona.
Como
está indo o seu trabalho de pastor na diocese de Livramento, especialmente
neste tempo?
Meu trabalho
pastoral na diocese? Sabe, os antigos diziam que ninguém é juiz em causa
própria. Deveria perguntar aos padres e aos fiéis o que pensam.
Só destaco que
a primazia, na organização pastoral e nas prioridades pastorais, razão primeira
e última, é continuar a missão que Jesus nos deixou: ‘Anunciar aos pobres a
Boa-Nova’. Para isso, outra prioridade é procurar formar leigos e leigas para
um serviço pastoral competente, apaixonado e fraterno. Outra dimensão
importante é a organização pastoral, tendo Conselhos pastorais na diocese, nas
paróquias e suas comunidades, para viver o espírito de comunhão e participação,
com o respiro de Cristo. Por isso, outra urgência consiste em alimentar a
espiritualidade à escola da Palavra e da oração.
A Diocese é
relativamente pequena (uns 24 mil Km2), com uma população de uns 320 mil
habitantes. Os padres são 22 (com os religiosos); temos 15 seminaristas, alguns
próximos à ordenação presbiteral. Caminhamos na alegria da fé, procurando
semear com simplicidade e na esperança. O projeto pastoral dos próximos anos
nos empenha a sermos “Igreja missionária a serviço do Evangelho”. Confiamos na
presença amorosa e maternal de Nossa Senhora do Livramento.