“Depois mudou de opinião e foi”
(Mt 21,29b)
1ª
Leitura - Ez 18,25-28
Salmo
-
Sl 24,4bc-5.6-7.8-9 (R. 6a)
2ª
Leitura - Fl 2,1-11
Evangelho
- Mt 21,28-32
“Nem
todo aquele que diz ‘Senhor! Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele
que põe em prática a vontade de meu Pai” (Mt 7,21). A proposta de Jesus é bem
clara. Para se tornar discípulo(a) dele não basta adquirir um vocabulário
evangélico com palavras profundas e imbuídas de devoção. A adesão comprometida
é precedida pela conversão e confirmada com um amor operativo que ecoa com
feitos a palavra de Jesus.
É
para essa reflexão que a Liturgia da Palavra do 26º Domingo Comum nos conduz.
Diante do projeto de Deus não podemos ostentar uma postura meramente verbal,
como se a nossa fé fosse apenas um sentimento. A fé que professamos não se
reduz às palavras da Sagrada Escritura, das orações, da doutrina cristã ou da
lei da Igreja, pois o cristianismo não significa consentimento intelectual, mas
uma maneira evangélica de viver. Não basta, portanto, pronunciar palavras
cristãs, precisamos viver como Cristo. É necessário configurar o nosso agir com
o agir de Deus (1ª leitura), mas isso só é possível quando nosso coração se
abre à conversão. Será que conseguimos fazer isso com honestidade?
Desafiados
pelo secularismo que modela nossa sociedade, pelo imediatismo consumista das
relações e pelo ambiente virtual das redes sociais digitais, a experiência de
fé que fazemos na comunidade, sobretudo na Santa Missa, precisa ser uma
experiência real capaz de atingir o quotidiano de nossas vidas. Será que
realmente estamos dispostos a praticar o que rezamos? Não é raro desmentir com
nossas ações o “sim” que pronunciamos com a boca. Essa realidade nos reporta
para o a parábola dos dois filhos (Mt 21,28-32) que traz uma pertinente
contraposição: de um lado um filho que tem uma adesão operativa precedida de
uma negação verbal; do outro, um filho cujo assentimento verbal não passa para
a ação. O que podemos colher dessa parábola?
Na
parábola, o evangelista Mateus utiliza as imagens do homem e dos dois filhos
para falar dos que entrarão no Reino dos Deus. A questão da sinceridade ganha
destaque na ação do filho que se recusa a atender o pai. Porque foi coerente
consigo o primeiro filho fez uma experiência diferente e passou por um processo
de conversão. Arrependendo-se da resposta negativa que dirigiu ao pai o filho
decidiu ir trabalhar na vinha. Por isso, ele cumpriu a vontade do pai. Aqui
entendemos o porquê de os cobradores de impostos e prostituas entrarem primeiro
que os sumos sacerdotes e anciãos do povo no Reino de Deus. Enquanto estes
ostentam um culto fetichista da lei e se definem especialistas do culto e
guardiães da sã doutrina; aqueles, excluídos da sociedade puritana da época
creem e acolhem Jesus com amor.
A postura dos sumos sacerdotes e
anciãos do povo, ilustrada na figura do segundo filho, não é uma realidade
desconhecida. Por isso, cuidemos para não nos tornarmos profissionais da
religião, ou seja, que dentro da Igreja exclamam um grande “sim”, mas na vida
não se empenha em testemunhar concretamente a fé porque pensa que não precisa
de conversão. Só um coração aberto à conversão nos ajudará a traduzir na vida
as belas palavras que proclamamos com os lábios.
Tal
como ocorreu na vida do primeiro filho, a mudança é um caminho que devemos
assumir diariamente para adequar nossa vida ao projeto de Deus. Isso requer
disponibilidade e coragem para abandonar os velhos discursos estéreis e
descompromissados de nossas pastorais, grupos e movimentos, e assumir com
espírito missionário os fatos concretos. Nossa regra fundamental não é a
obediência restrita à lei. A obediência agora chama-se fé em Jesus Cristo, uma
fé decididamente operativa.
Sejamos
honestos a fim de que a fé ressoe na vida concretamente, para além das
palavras. Não basta o testemunho oral de que a vida com Jesus é diferente. Se é
verdade que Jesus transformou nossas vidas, então nosso modo de agir confirmará
a mudança. Tal como o ditado, “palavras sem obras, viola sem cordas”. Jesus
Cristo, Palavra viva, não é uma ideia a ser entendida com a mente, mas
acolhida, vivenciada e seguida em todo existir, para que o sim da fé seja
também o sim da vida.
Marcos
Bento - 3º
Teologia