Vimos que, para receber a comunhão eucarística, o povo se
coloca em procissão. Aproximando-se
do ministro, o fiel recebe o Corpo de Cristo ou na mão ou na boca. Queremos
compreender melhor o sentido desses gestos.
a) Receber a comunhão na mão manifesta a atitude de
quem acolhe um dom. De fato, a Eucaristia é sempre um presente do Senhor. Por
isso, só quem preside - em nome e com o
poder de Cristo -(também quem ‘concelebra’) pega diretamente o Corpo de Cristo da patena ou da âmbula.
Todos os outros, também o diácono, recebem-na do ministro, para destacar essa dimensão
de dom.
O fiel se aproxima do ministro e, sem fazer a genuflexão ou o
sinal da cruz – nem antes, nem depois – recebe o pão eucarístico e, fazendo uma
reverência, responde Amém. Ficando um
pouco de lado, para permitir a outro fiel se aproximar, leva a partícula à
boca.
Receber a comunhão na mão, é sinal da consciência e
disponibilidade do discípulo do Senhor em acolher o grande dom e, também, manifesta
atitude de responsabilidade e humilde confiança.
A esse respeito, é bonito o que escreve o bispo São Cirilo
de Jerusalém (na VCatequese mistagógica):
“Aproximando-te da Mesa sagrada, não te apresentas com as palmas abertas e os
dedos separados; mas, colocando a esquerda em forma de trono, com debaixo a mão
direita, como quem deve acolher o Rei... respondendo: Amém”. Santo Agostinho
ensinava: “Se vós sois o corpo e as membras de Cristo; sobre a Mesa do Senhor
está o vosso mistério. Àquilo que sois, vós respondeis: Amém”. Gestos e
palavras devem expressar, com simplicidade e fé, a total disponibilidade em
acolher o Senhor Jesus, deixando que Ele entre em nossa vida e faça de todos um
só Corpo.
Esse gesto da comunhão na mão e em pé, acompanhou a
caminhada eclesial, desde o início até o século IX.
Várias razões determinaram a nova praxe de receber a
comunhão na boca e não mais na mão. Os historiadores documentam que este
costume entrou, aos poucos, e não de forma universal, motivado por um
sentimento de profundo respeito para com a Eucaristia, mas também pelo fato que
os fiéis não ofereciam mais o pão para a comunhão no momento da apresentação
das oferendas. Contribuiu, ainda, a ideia de que as mãos que tocavam o
dinheiro, manuseavam armas, abraçavam e agiam com agressividade, não podiam
receber o Corpo do Senhor.
Essas razões, porém, com a consciência que hoje temos, não
podem ser suficientes. De fato, também a língua é instrumento, tantas vezes, de
pecado! Talvez, não menos do que as mãos. Por isso, o receber a comunhão na mão
não pode ser motivado como fosse sinal de maior fidelidade ao projeto de Jesus.
Ao invés, receber a comunhão diretamente na língua destaca a
primazia do dom da graça do Senhor para com os fiéis que, como crianças ou
doentes, acolhem o Corpo de Cristo. De fato, às crianças e às pessoas acamadas,
não mais autossuficientes, o alimento é dado na boca. Diante de Deus, nós
permanecemos crianças e doentes. A Igreja, qual mãe amorosa, alimenta-nos. Nos tornamos pequenos no meio de vós.
Imaginai uma mãe acalentando os seus filhinhos, escreve o apóstolo Paulo
(1Ts 2,7). Aos doentes, que não mais conseguem se alimentar com as próprias
mãos, o alimento é dado na boca. Nós vivemos uma profunda fragilidade; o gesto
de dar e receber a comunhão na boca, expressa essa função de ajuda por parte da
Igreja que, desse jeito, socorre a fragilidade de seus filhos.
Dom Armando