Leituras:
1ª
Leitura - Jr 20,10-13
Salmo
-
Sl 68
2ª
Leitura - Rm 5,12-15
Evangelho
-
Mt 10,26-33
Diante de uma realidade
que se apresenta como pós-cristã, o anúncio do Evangelho encontra desafios
gigantescos. As propostas de futuro são outras porque o mundo não se move na
direção da proposta de Cristo, cuja meta é o Pai. A motivação inicial dos
primeiros cristãos de espalhar a fé até aos confins da terra parece não ser
mais um compromisso dos que se denominam seguidores de Jesus de Nazaré. O
individualismo religioso que incentiva cada fiel a dedicar-se exclusivamente a
sua vida, não se importando com os outros nem com a vivência comunitária da fé
ganhou espaço em muitas das nossas comunidades cristãs.
Por isso, o cultivo da fé
mais do que uma forma de alimentar a dimensão espiritual presente no ser
humano, mais do que o reconhecimento da existência de um Deus Criador e
Salvador, mais do que uma adesão preferencial ao Evangelho, tornou-se uma
maneira de amenizar o sofrimento pessoal e aliviar o medo de perder a vida. A
fé parece ter deixado de ser uma resposta livre e amorosa do ser humano ao
convite de Deus, e se transformou num elemento de refúgio, no qual as pessoas
encontram segurança para fugir do mundo e das situações presentes no cotidiano.
Diante dessa realidade, a
Liturgia da Palavra reflete exatamente a relação dos Apóstolos, isto é,
daqueles que se decidiram seguir Jesus de Nazaré porque responderam ao seu
chamado e foram enviados em missão por Ele, com os medos que impedem de
comunicar a fé recebida e expandir a Boa Nova do Reino. O Evangelho deste
domingo está dentro do discurso missionário, as recomendações de Jesus se
apresentam como encorajamentos em meio as perseguições e crises durante a
formação das primeiras comunidades cristãs.
Na verdade, o medo é um
problema para nossa vida inteira porque nos paralisa. Quantas vezes somos
impedidos de tomar decisões por causa do medo de perder prestígio, segurança,
conforto ou bem-estar? Por causa do medo não nos atrevemos a arriscar nossa
posição social, nosso dinheiro ou nossa pequena felicidade. E noutros casos, o
medo da solidão, de ficar sem amigos ou sem o amor das pessoas nos aterroriza.
Geralmente, estamos apenas
preocupados em estar bem. Temos medo de ser ridicularizados, de confessar
nossas verdadeiras convicções e de testemunhar nossa fé. Tememos críticas,
fofocas e rejeições por parte dos outros. E outras vezes, o medo do futuro se infiltra
a ponto de nos impedir de enxergar o próximo passo no caminho. Será que o medo
é mais forte do que a fé? Basta recordarmos os martírios que acontecem com
frequência no Oriente para percebermos que a fé é maior que o medo.
Isso nos faz olhar o medo
como uma função vital positiva que assinala a presença do perigo. O perigo
diante da perseguição para um mártir cristão é a perca da sua confissão de fé.
Para o mártir, a morte é um elemento periférico, não é o principal. Assim, não
devemos ter medo das dificuldades, devemos conservar a nossa fé e temer
reverencialmente a Deus, pois se perdermos Ele, perderemos tudo. É por isso que
a única vez que Jesus nos pede para ter medo no Evangelho de hoje, refere-se ao
medo daquele “que pode destruir a alma e o corpo no inferno” (Mt 10,28b).
Em outras palavras,
devemos estar bem atentos conosco mesmos já que o que pode destruir a alma e o
corpo no inferno não é um ser desconhecido nem um personagem externo que age em
nós, mas uma força negativa que experimentamos e que nos incentiva a praticar o
mal, distanciando-nos da proposta de Cristo. Tal como Paulo expressa em Rm 7,
era como se víssemos o bem, mas uma força interior nos direcionasse para o mal.
Devemos temer essa tendência para o mal porque nos destrói totalmente. Fora
disso, nada deve ser motivo de medo para nós.
Evidentemente, por três
vezes (Mt 10, 26.28.31) Jesus recomenda “não tenhais medo”, mostrando-nos que tudo
o que foi dito às ocultas será anunciado para toda terra; que nenhuma violência
é capaz de privar os discípulos de Cristo do verdadeiro bem – a vida doada por
Deus; tampouco devemos ter medo de Deus se esquecer de nós durante a
perseguição ou o sofrimento. Se ele cuida dos pássaros, quanto mais cuidará de
nós (Cf. Mt 10,29).
Portanto, como discípulas
e discípulas de Jesus de Nazaré somos impelidos a conservar a fé em Deus, para
que a nossa missão de testemunhar o Evangelho no mundo não seja uma faísca, mas
uma chama de transformação na vida das pessoas e do mundo; e o sussurro tímido
se transforme num grito impactante que desperte os que se acomodaram nos medos
e encontraram na fuga do mundo um refúgio para se libertar das dificuldades
cotidianas. Portanto, não sejamos ingênuos! Afastar dos nossos medos não
significa apagá-los, quando escutamos as palavras de Jesus “não tenhais medo”
(Mt 10,26.28.31), não estamos sendo chamados a fugir dos nossos compromissos.
Ao contrário, somos encorajados e fortalecidos pelo poder de Deus para
enfrentá-los com fé.
Marcos
Bento
3º
Teologia