14. beber do CÁLICE
Na
celebração da Eucaristia, o sacerdote, depois de tomar o pão eucarístico, bebe do cálice o vinho consagrado. Qual
sentido tem esse gesto?
Desde
a Antiguidade, beber do cálice, além
do sentido concreto, tem o sentido simbólico de dor e amargura; por isso, fala-se
do cálice da ira (cf. Jr 25,15; Is
51,17.22; Ap 16,19); mas, encontra-se, também, cálice da bênção (cf. Sl 16/15,6) e cálice que transborda de felicidade (cf. Sl 23/22, 5).
Durante
a última Ceia, Jesus pegou o cálice, deu
graças, passou-o aos discípulos, e todos beberam. E disse-lhes: ‘Este é o meu
sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos. Em verdade, não beberei
mais do fruto da videira até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de
Deus’ (Mc 14,23-25).
Aqui
paremos para analisar apenas o gesto do beber
do cálice. Na Ceia da Páscoa, os hebreus costumam beber três cálices de
vinho. O terceiro é o ‘cálice da bênção’, por que acompanhado por uma ação de
graças. Para Jesus, o cálice que segura nas mãos, preanuncia o sofrimento que
enfrentará no jardim das Oliveiras, quando em sua oração diz: Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice
(Lc 22,41).
Desde
o início de sua caminhada, a Comunidade dos discípulos de Jesus recorda o que
Jesus fez ‘naquela ceia derradeira’, e compreendeu o sentido e o valor desse
gesto. São Paulo, sobretudo, uns vinte anos depois da morte de Jesus, escreve à
Comunidade de Corinto: O cálice de
bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? (1Cor
10,16a); e: Não podeis beber do cálice do
Senhor e do cálice dos demônios; não podeis participar da mesa do Senhor e da
mesa dos demônios (1Cor 10,21). Paulo tem clara consciência de que beber do cálice é gesto de comunhão. Por
isso, não se pode participar, ao mesmo tempo, do sacrifício do Senhor e dos
sacrifícios oferecidos aos ídolos. São João Crisóstomo escreve: “Quando você,
receoso, se aproxima do cálice, aproxime-se como se precisasse beber ao lado de
Cristo mesmo”.
Pelo
profundo respeito devido ao Sangue do
Senhor, a Igreja pede que “os vasos sagrados sejam feitos de metal nobre”
(IGMR, 328), “materiais que não se quebrem nem se alterem facilmente” (329), e
“tenham a copa que não absorba líquidos” (330); “quanto à forma... o artista
tem a liberdade de confeccioná-los de acordo com os costumes de cada região”,
mas que esses vasos “se distinguem claramente daqueles destinados ao uso
cotidiano” (332). O cálice, pela nobreza de seu uso, deve ser abençoado
seguindo os textos próprios do Ritual (cf. n. 1068-1084).
Na
santa Missa, os sacerdotes, depois de ter comungado ao pão, Corpo de Cristo, bebem do cálice o Sangue do Senhor. Esse
é o gesto mais próprio para comungar. Para facilitar, os sacerdotes concelebrantes
comungam molhando a partícula no vinho consagrado. A Reforma conciliar abriu
para que, em determinadas ocasiões, os leigos possam receber a comunhão também
no Sangue do Senhor, para melhor expressar, no ‘sinal’, a participação à
plenitude da vida de Cristo doada pela comunhão eucarística. Mas, o que sempre
precisamos procurar é que toda comunhão seja incentivo para sermos construtores
de comunhão com nossa vida.
Dom Armando