Hoje (20), pela manhã, o
papa Francisco viajou para Assis (Itália), onde celebrou os 30 anos do histórico
Encontro de Oração pela Paz, realizado no dia 27 de outubro de 1986, por
iniciativa de São João Paulo II. Ao chegar no Sacro Convento de
Assis, o papa foi recebido, entre outros, pelo patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I; o
patriarca Sírio-ortodoxo de Antioquia Ignatius Efrem II; pelo vice-presidente
da Universidade de Al-Azhar, no Egito, Abbas Schuman; pelo arcebispo de
Cantuária e primaz da Igreja Anglicana Justin Welby; pelo rabino chefe de Roma,
Riccardo di Segni.
De acordo com a Rádio Vaticano, cerca de
500 líderes religiosos e personalidades da política e da cultura estiveram
presentes. O Dia Mundial de Oração pela Paz fez parte do evento “Sede de Paz.
Religiões e Culturas em diálogo”, promovido pela diocese de Assis, Famílias
Franciscanas e Comunidade de Santo Egídio.
Leia o pronunciamento do papa aos representantes cristãos:
"À vista de Jesus
crucificado, ressoam também para nós as suas palavras: «Tenho sede!» (Jo 19,
28). A sede é, ainda mais do que a fome, a necessidade extrema do ser humano,
mas representa também a sua extrema miséria. Assim contemplamos o mistério do
Deus Altíssimo, que Se tornou, por misericórdia, miserável entre os homens.
De que tem sede o
Senhor? Certamente de água, elemento essencial para a vida; mas sobretudo de
amor, elemento não menos essencial para se viver. Tem sede de nos dar a água
viva do seu amor, mas também de receber o nosso amor. O profeta Jeremias
expressou o comprazimento de Deus pelo nosso amor: «Recordo-Me da tua
fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado» (Jr
2, 2). Mas deu voz também ao sofrimento divino, quando o homem, ingrato,
abandonou o amor, quando – parece dizer também hoje o Senhor – «Me abandonou a
Mim, nascente de águas vivas, e construiu cisternas para si, cisternas rotas,
que não podem reter as águas» (Jr 2, 13). É o drama do «coração árido», do amor
não correspondido; um drama que se renova no Evangelho, quando, à sede de
Jesus, o homem responde com vinagre, que é vinho estragado. Como profeticamente
lamentou o salmista, «deram-me (…) vinagre, quando tive sede» (Sal 69/68, 22).
«O Amor não é amado»:
tal era, segundo algumas crônicas, a realidade que turvava São Francisco de
Assis. Por amor do Senhor que sofre, não se envergonhava de chorar e
lamentar-se em voz alta (cf. Fontes Franciscanas, n. 1413). Esta mesma
realidade nos deve estar a peito ao contemplarmos Deus crucificado, sedento de
amor. Madre Teresa de Calcutá quis que, nas capelas de cada comunidade,
estivesse escrito perto do Crucifixo: «Tenho sede». Apagar a sede de amor de
Jesus na cruz, através do serviço aos mais pobres dos pobres, foi a sua
resposta. Na verdade, o Senhor é saciado pelo nosso amor compassivo; é
consolado quando, em nome d’Ele, nos inclinamos sobre as misérias alheias. No
Juízo, chamará «benditos» aqueles que deram de beber a quem tinha sede, aqueles
que ofereceram amor concreto a quem estava necessitado: «Sempre que fizestes
isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,
40).
As palavras de Jesus
interpelam-nos, pedem acolhimento no coração e resposta com a vida. Na sua
exclamação «tenho sede», podemos ouvir a voz dos que sofrem, o grito escondido
dos pequenos inocentes a quem é negada a luz deste mundo, a súplica instante
dos pobres e dos mais necessitados de paz. Imploram paz as vítimas das guerras
que poluem os povos de ódio e a terra de armas; imploram paz os nossos irmãos e
irmãs que vivem sob a ameaça dos bombardeamentos ou são forçados a deixar a
casa e emigrar para o desconhecido, despojados de tudo. Todos eles são irmãos e
irmãs do Crucificado, pequeninos do seu Reino, membros feridos e sedentos da
sua carne. Têm sede. Mas, frequentemente, é-lhes dado, como a Jesus, o vinagre
amargo da rejeição. Quem os ouve? Quem se preocupa em responder-lhes?
Deparam-se muitas vezes com o silêncio ensurdecedor da indiferença, o egoísmo
de quem se sente incomodado, a frieza de quem apaga o seu grito de ajuda com
mesma facilidade com que muda de canal na televisão.
À vista de Cristo
crucificado, «poder e sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 24), nós, cristãos, somos
chamados a contemplar o mistério do Amor não amado e a derramar misericórdia
sobre o mundo. Na cruz, árvore de vida, o mal foi transformado em bem; também
nós, discípulos do Crucificado, somos chamados a ser «árvores de vida», que
absorvem a poluição da indiferença e restituem ao mundo o oxigênio do amor. Do
lado de Cristo, na cruz, saiu água, símbolo do Espírito que dá a vida (cf. Jo
19, 34); do mesmo modo saia de nós, seus fiéis, compaixão por todos os sedentos
de hoje.
Como a Maria ao pé da
cruz, conceda-nos o Senhor estar unidos a Ele e próximos de quem sofre.
Aproximando-nos de quantos vivem hoje como crucificados e tirando a força de
amar do Crucificado Ressuscitado, crescerão ainda mais a harmonia e a comunhão
entre nós. «Com efeito, Ele é a nossa paz» (Ef 2, 14), Ele que veio anunciar a
paz àqueles que estavam perto e aos que estavam longe (cf. Ef 2, 17). Ele nos
guarde a todos no amor e nos congregue na unidade, para nos tornarmos o que Ele
deseja: «um só» (Jo 17, 21)".
Com informações e
foto da Rádio Vaticano