Em
minhas reflexões litúrgicas, estou apresentando os sinais e símbolos que aparecem em nossas celebrações. Um desses é o
incenso. Esse aroma já era usado nas
cerimônias religiosas no Egito antes da chegada dos israelitas. Seu simbolismo
é facilmente compreensível: indica festa, honra, respeito e, também,
sacrifício.
No
livro do Êxodo (30,1.7-8), se lê: Farás
um altar para queimares nele o incenso... Aarão fará fumegar sobre ele o
incenso aromático; cada manhã, quando preparar as lâmpadas, ele o fará
fumegar... Será um incenso perpétuo diante do Senhor, pelas vossas gerações.
Tudo isso se realiza ao redor da Arca da Aliança, no Templo de Jerusalém. A
rainha de Sabá trouxe para Salomão, entre outros presentes, grande quantidade
de aromas, que jamais se viu em tanta
quantidade (cf. 1Rs 10). Os Magos, que do Oriente vieram visitar o menino
Jesus, trouxeram, com o ouro e a mirra, também o incenso, como tinha anunciado
o profeta Isaías (60,6).
Os
cristãos, porém, introduziram em seu culto o incenso somente no século IV,
quando já não existia mais o perigo de confusão com os ritos idolátricos do
culto romano.
A palavra incenso vem do latim incendere = acender; incenso é ‘o que é queimado’; no grego,
a palavra é thus; dela vem turíbulo, o incensário, e turiferário, aquele que usa o turíbulo para
incensar.
Na
liturgia, o incenso se usa nas solenidades, como sinal de festa. Com ele,
incensa-se o altar, as oferendas, o livro dos Evangelhos, as imagens, quem
preside a celebração e os participantes todos; incensa-se o Santíssimo na
exposição, o corpo do falecido, que foi ‘templo do Espírito Santo’ e está
destinado à ressurreição. O incenso é símbolo da oração, como bem expressa o salmo
141/140, 2: Suba minha prece como incenso
em tua presença; no livro do Apocalipse (8,3-4) se lê: Outro anjo veio postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro.
Deram-lhe uma grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações
de todos os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão
do Anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus.
O
incenso expressa, ainda, a dimensão do sacrifício, como escreve o apóstolo
Paulo: Tornai-vos, pois, imitadores de
Deus, como filhos amados, e andai em amor. Assim como Cristo também nos amou e
se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave (Ef
5,1-2). E, ainda, é símbolo das boas obras: ...por nós se expande o perfume do seu conhecimento. Em verdade, somos
para Deus o bom odor de Cristo (2 Cor 2,14-15). Na missa dos santos óleos, na
oração depois da Comunhão, pedimos de ‘ser por toda parte o bom odor de Cristo’.
São Gregório Magno (papa no final do VI século) escreve: “A alma santa torna o
seu coração como um turíbulo que exala perfume diante de Deus”.
A
liturgia de nossa Igreja pede para participarmos com a totalidade da nossa
pessoa, e nos envolve com todos os sentidos, não só com a visão e a audição, o
gosto e o tato, mas também com o olfato. O uso do incenso é sinal dessa totalidade
com que devemos participar nas celebrações litúrgicas.
Dom Armando