Como em todos os tempos da história humana tudo vive
em eterna mudança. A mudança acontece involuntariamente e também através da
vontade. Um filósofo grego nascido no séc. VI a.C., que chamava-se Heráclito,
conseguiu perceber a contínua mudança de todas as coisas. Nada no mundo
permanece sem mudar. Isto significa que a vida e toda a existência do universo
é dinâmica. Uma vez que nascemos, não tem jeito mais, não podemos parar, nao
podemos estacionar, ainda que, às vezes, precisamos de um certo aquietamento
para podermos respirar do contínuo movimento.
A Quaresma, este tempo santo proposto pela Igreja,
porque inspirado na vida de Jesus, é um momento muito especial na vida dos
cristãos católicos, pois lembra a necessidade da mudança na nossa vida, da
transformaçao tão necessária para nosso crescimento como pessoas humanas e,
sobretudo, como filhos de Deus. A Igreja não impõe, mas convida cada um em
particular a fazer uma penitência e viver a conversão com o objetivo de
podermos controlar nossos instintos egoístas e nos tornarmos melhores.
Os Evagelhos, bem como outras leituras da Sagrada
Escritura, deste período quaresmal são lindos. Falam das tentações, da
transfiguração, fala da parábola do filho pródigo, etc., todas orientadas em
vista da transformação e redenção do homem e da celebração da Páscoa de Jesus. Das leituras atenho-me àquela do Êxodo 3,
1-15. Nessa leitura Deus que vê, escuta e conhece o sofrimento do seu povo e
desce para libertá-lo, se apresenta como o Deus que é desde o início o Deus dos
vivos (patriarcas), cujo nome è bastante estranho. Ele diz a Moisés que o seu
nome è “EU SOU”.
Fiquei imaginando o nome de Deus que diz que não muda,
que é sempre presente. Significa que Deus não precisa, óbvio, de conversão
porque é eterno e perfeito. Mudar, portanto, é andar na direção da não mudança,
é caminhar sempre em direção à perfeição e chegar a um ponto onde nao precisaremos
mais mudar. A mudança que a Quaresma nos propõe significa então uma preparação
para nossa eternidade, onde, na fé, seremos o nosso ser sempre.
Em se tratando de um mundo onde é sempre mais favorável
manter a idolatria do “ego” parece, às vezes, que falar deste tipo de mudança
orientada para um objetivo determinado, como construção responsável de si mesmo,
é falar de uma coisa estranha, impossível, fora de moda ou até mesmo impensável.
Contanto, não devemos ter dúvida de que a conversão é muito necessária na nossa
vida, ainda que seja difícil. É através dela que caminhamos na esperança da
realização plena de nós mesmos como pessoa humana que visa à felicidade de si e
da humanidade inteira.
Nestes dias assistimos a renúncia do Papa Bento XVI.
Na sua justificativa de renúncia ela fala de um “mundo com mudanças rápidas e
profundas”. Aqui neste caso as mudanças são em sentido negativo, que na
verdade, não leva o homem a uma mudança profunda. Esse frenesi, esse movimento
contínuo exterior revela, ao mesmo tempo, um homem paralisado interiormente, um
homem fragmentado e destruído. Essas mudanças, ao contrário, são mudanças mais
propensas a alimentar os vícios que as virtudes. Destas mudanças não
precisamos, mas sabemos que elas nos afetam e por isso temos que nos prevenir.
Assim, empenhemos nossos esforços mentais, espirituais
e físicos para tentar viver o que a Igreja nos propõe. São tantas “coisinhas”
em nós que precisam ser mudadas... (!) Cada um avalie a si mesmo, TENTE SE
PERCEBER, para ver o que precisa melhorar. Além disso, procuremos viver o
espirito quaresmal da oração, jejum e caridade.
(Pe. Nicivaldo de Oliveira Evangelista, mestrando em
Teologia Moral, Roma - 05/03/2013)