"Eu tenho uma
espécie de dever, de dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais do que
um espectador de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso”
(Fernando Pessoa).
“A juventude é a fase mais bela
da vida” – nos diz, constantemente, os mais vividos. Porém, se por um lado este
é um momento especial da experiência existencial do ser humano, por outro,
vemos uma juventude ferida por tantos males existentes na sociedade
contemporânea. Reconhecendo o quanto o mundo de
hoje é desafiador e o quanto a juventude tem a sua vitalidade ameaçada pela
violência, pelas drogas, pelo consumismo, pelo individualismo, dentre tantas
outras coisas, a Igreja no Brasil nos convida nessa quaresma a refletir de modo
especial sobre a realidade da juventude por meio da campanha da fraternidade. Com tudo isso, perguntamo-nos: de
que precisa a juventude? Muitas são as possíveis respostas, mas creio que uma é
a resposta fundamental. A juventude precisa sonhar. Não falo aqui de
pensamentos noturnos, surgidos enquanto dormimos. Também não se trata dos
desejos egoístas que incutimos em nossa mente (a “minha” profissão, os “meus”
bens, os “meus” estudos). Falo de algo muito maior, e que
se apresenta muito escasso nos tempos atuais, trata-se de alguém que tenha
grandes ideias e grandes atitudes; de alguém que busque um ideal de vida em
prol de si e da humanidade; de alguém capaz de olhar para a realidade em que
vive com esperança e que é capaz de se doar. Contudo, desaprendemos a sonhar.
Os nocivos ares da cultura pós-moderna produziu para nós um mundo carente de
rumos e de valores, um mundo líquido em que tudo muda com velocidade, onde tudo
é transitório e passageiro. Nesse mundo, aprendemos a valorizar apenas o
momento presente, a satisfação que ele pode produzir, o bem estar que ele pode
promover. Aprendemos a não “perder tempo” por que ele tem de ser produtivo, tem
de gerar lucro. De igual modo, os ares da cultura pós-moderna produziu para nós
um mundo vazio, um mundo efêmero, um mundo de realidades gritantes diante das
quais permanecemos alheios. Precisamos sonhar. Precisamos
olhar com esperança para a realidade em que vivemos. Crer que ainda é possível
viver valorizando a vida, mesmo quando tudo nos distancia desse ideal. Precisamos,
ainda, acreditar no outro, lutar por um mundo melhor, mesmo quando nos oferecem
uma vivência egoísta da nossa vontade. Por isso, repete-se para a
juventude de hoje o que Deus falou a seu servo, Josué, quando ele é convidado a
adentrar com o povo de Israel na terra prometida: “sê firme e corajoso” (Js 1,
6). Precisamos de firmeza e coragem, pois é necessário superar os ares do nosso
tempo que nos levam a um caminho de morte; precisamos de firmeza e coragem para
sermos jovens que sonham e lutam por um mundo novo em detrimento ao
contravalores de nosso tempo. Que as atividades promovidas pela
Campanha da Fraternidade ajudem os jovens a protagonizar esse ideal de construção
de uma nova sociedade, aguçando em seus corações muitos sonhos – não sonhos egoístas
– mas sonhos maiores que, tendo a fé como alicerce, faça-os pronunciar como o
profeta Isaias: “eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 8).
Que a Campanha da Fraternidade toque
também no coração dos mais vividos. Sejam eles motivadores, pessoas que admirem
os sonhos e ajudem os jovens na sua missão. Que a Campanha da Fraternidade ajude,
também, a Igreja a fim de que ela possa estar sempre aberta a acolher os jovens
com seus sonhos, seus propósitos, iluminando-os com a palavra de Deus e
fortalecendo-os com o Pão Eucarístico.
Sem.
Jandir Santos
1 ano Teologia