Leituras:
Isaías 50,4-7;
Salmo 21
Filipenses
2,6-11;
Lucas
22,14-23,56 (longa)
ou Lc 23,1-49 (breve)
Este domingo tem dois nomes: “de ramos” e “da
paixão”. Refletem-se duas tradições, a primeira da liturgia de Jerusalém, a
segunda da liturgia romana. Na primeira se destaca a memória dos acontecimentos
narrados pelos evangelhos, isto é, a entrada de Jesus na Cidade santa, acolhido
por crianças e pobres qual Messias esperado; em Roma, invés, a celebração
enfatizava a memória da paixão do Senhor. Reunidas desde antigamente, as duas
tradições litúrgicas constituem a hodierna e rica celebração. Ela nos introduz
na Semana chamada “Santa”, porque nela os cristãos “fazem memória” dos acontecimentos
centrais da paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus. A Palavra de Deus apresenta
dois textos do evangelho de Lucas, o primeiro, para a bênção de ramos; o outro,
na missa, a narrativa da paixão do Senhor. Unem-se a dimensão da acolhida e do
triunfo e a do sofrimento e da rejeição de Jesus. A proclamação (longa) da
paixão começa com a Ceia pascal que dá a chave de leitura para a compreensão do
sentido da paixão e morte de Jesus: meu corpo é dado “por vós” (Lc 22,19), e o
“sangue da Nova Aliança” é derramado ”em favor de vós”. Lembram do anúncio aos
pastores? Os anjos diziam: na cidade de Davi “nasceu-vos hoje um Salvador, que
é o Cristo-Senhor” (Lc 2,11)! Ele assumiu um corpo, e morre “por nós”, para
transformar sua carne e seu sangue em alimento e bebida. No jardim Jesus está
só! Seus amigos dormem. Dentre poucos instantes, Judas o trairá e Pedro o
renegará. Preso, os soldados vão zombar d’Ele e cuspir n’Ele. De verdade, como
previa Isaías (veja I leitura), Ele “não desviou o rosto de bofetões e
cusparadas”; “conservou o rosto impassível como pedra, sabendo que não “sairia
humilhado”. Com palavras extraordinariamente profundas, o hino da carta aos
Filipenses nos faz meditar e contemplar Aquele que “humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (II leitura). O salmo é o
grito de alguém que, provado por intenso sofrimento, numa dolorosa experiência
de abandono, pede com insistência: “Ó meu Deus, meu Deus, por que me
abandonastes”? Nestes dias somos convidados, desde essa abertura solene e
questionadora da Semana Santa, para abrirmos mentes e corações e entrarmos no
mistério de amor do Filho de Deus que nos amou até o ponto mais alto. Na contemplação
do rosto de Cristo Jesus, recebemos o convite: ama como Ele amou! “Não existe
amor maior daquele que dá sua vida”! Ele deu a sua vida por amor! E eu, você,
nós Igreja de Jesus, o que pretendemos ser e fazer? Ao longo da semana, procuremos
fazer um sincero exame de consciência e avaliarmos nossa resposta. Não basta estender
tapetes onde Ele vai passar. Melhor seria abrir a nossa vida para o verdadeiro
amor a Ele que, logo, aponta não para si mesmo mas para os que ainda hoje
continuam vivendo, de diferentes maneiras, sua paixão. Ele nos diz: “seja
/sejam solidários com estes meus irmãos pequeninos” (não só pela idade!)! De
fato, “qualquer coisa vocês façam a um deles, é a mim que a fazem”. Desejo e
peço para que esta Semana seja de verdade “santa”, isto é, repleta da bondade do Senhor, e nos
torne mais justos, solidários, abertos e atentos à vida dos que conosco caminham
nas estradas, tantas vezes empoeiradas e difíceis, da vida. Chegaremos, assim,
à Páscoa de Ressurreição, transformados, mais livres e sensíveis, mais
discípulos e discípulas d’Ele que caminha à nossa frente como Mestre e Exemplo;
que caminha conosco, como Amigo, e nos precede como Senhor.
Dom Armando