Eu
te sugiro...
Leia “Manu: a menina que sabia ouvir”
Se você leu e gostou de
O Pequeno Príncipe, certamente, vai
se apaixonar por Manu: a menina que sabia
ouvir. Há quem diga que se o principezinho de Saint-Exupéry fosse mulher,
seria Manu, pois ambos possuem toda a pureza de coração de uma criança e deixam
uma mensagem para os adultos “sérios”, para que não se esqueçam da beleza da
vida simples e dos valores essenciais da humanidade.
Seu autor é o
romancista alemão Michael Ende, que nasceu em 1929 e faleceu em 1995. Seus
livros já foram traduzidos em mais de quarenta idiomas. Ele ficou conhecido,
mundialmente, por seu livro A história
sem fim.
Manu:
a menina que sabia ouvir tem o título original de Momo e foi escrito no ano de 1973. No
Brasil, há duas traduções do livro. Uma do ano de 1984, de Vera Pacheco Jordão
e Lúcia Jordão Villela, que deram à tradução o título de “Manu: a menina que
sabia ouvir”, e outra versão, de 1995, de Mônica Stahel, que manteve o nome
original do alemão (“Momo e o senhor do tempo”, publicada pela Editora Martins
Fontes). As diferenças nas traduções se limitaram à escolha de um vocabulário e
estrutura de texto que pudesse manter uma fidelidade ao texto original,
trabalho que não é fácil.
Para esta apresentação
do livro, destaco dois aspectos reflexivos da obra: a capacidade de escuta de
Manu e a questão dos homens cinzentos. Antes, porém, vale ressaltar que, apesar
do livro ter sido escrito no ano de 1973, ele é de uma atualidade incrível.
Então, o primeiro
aspecto do livro refere-se ao dom que Manu possuía de escutar as pessoas. O autor diz que Manu não sabia fazer coisas
extraordinárias, mas o que sabia fazia melhor que todo mundo era ouvir.
Veja o trecho:
“Na
verdade, Manu não tinha bons conselhos para dar às pessoas, e nem sempre
encontrava palavras certas para dizer. Ela não era também uma pessoa divertida
que cantava ou dançava ou tocava algum instrumento. Nem tinha poderes para ver
o futuro. O que Manu sabia fazer, melhor do que qualquer outra pessoa,
era ouvir. Seria um erro supor que isso é coisa que qualquer um pode
fazer. Ao contrário, muito poucas pessoas sabem ouvir de fato. E a maneira
como Manu ouvia era realmente fora do comum” (p.7).
Manu dispunha de tanto
tempo para escutar as pessoas que, até inimigos que discutiam na frente dela,
acabavam por encontrar o motivo de brigas arrastadas de longo tempo e riam por
constatarem que eram sempre bobagens as responsáveis pela atual inimizade.
Em nosso tempo, há uma
carência sempre maior de pessoas que escutem as outras. Falo da escuta
verdadeira, aquela que se interessa sinceramente pela pessoa do outro. Nem
sempre são os conselhos que ajudarão. Às vezes, basta mesmo ser dispor a
escutar. Essa também é uma forma de acolhida, de serviço, de amor. É necessário
praticar sempre mais a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do
outro. Lembremos a regra de ouro: “Tudo o que vocês desejam que os outros façam
a vocês, façam vocês também a eles” (Mateus 7,12).
O segundo aspecto
refere-se aos homens do tempo, chamados de ‘homens cinzentos’, eram os ladrões
do tempo, que tinham planos de utilizar o tempo que os homens gastavam e
propunham a esses que o economizassem no Banco Poupa-Tempo, deixando de lado
conversas e visitas aos amigos, que não desperdiçassem tempo com o sono, com as
refeições, leituras, papagaio de estimação, etc. Para os ‘homens cinzentos’
essas coisas são inúteis.
Depois de narrar essas
cenas, sempre bem humoradas, Michael Ende expressa, até mesmo através do embate
de Manu com os ladrões do tempo, reflexões profundíssimas, como esta:
“Existem
calendários e relógios que o medem [o tempo], mas significam pouco, ou mesmo
nada, porque todos nós sabemos que, às vezes, uma hora parece uma eternidade,
ao passo que outras vezes passa como um relâmpago, dependendo do que se sucede
nessa hora. O tempo é a própria vida; e a vida reside no coração”. (p.34)
Saint-Exupéry também
reflete sobre o valor do tempo em O
Pequeno Príncipe. Há um diálogo clássico entre o principezinho e um
vendedor de pílulas para saciar a sede. O vendedor informou ao pequeno príncipe
que os peritos calcularam que a utilização da pílula gerava uma economia de
tempo de 53 minutos, tempo esse que as pessoas “perdiam” bebendo água, numa
semana. Assim, tomando a pílula, as pessoas teriam 53 minutos de lucro para
gastar como quisessem. O principezinho pensou: “Se eu tivesse 53 minutos para
gastar, iria caminhando calmamente em direção a uma fonte de água”
O ser humano precisa frequentemente
refletir sobre o que é importante para viver. Não esqueçamos que a vida é um
dom de Deus.
Essas e outras
reflexões perpassam o livro de Ende. Vale a pena ler esta obra. Bom, a bem da
verdade, é como dizia o poeta português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a
alma não é pequena”.
Aproveitem a leitura!
Raiana Cristina Dias da Cruz.
REFERÊNCIA:
ENDE, Michael. Manu: a menina que sabia ouvir. Tradução de Vera Pacheco Jordão e Lúcia Jordão
Villela. Editora Salamandra, 9ª edição. Rio de Janeiro: 1984, p.160. Título
original do alemão: Momo.