Estimados irmãos e irmãs, vivenciamos
neste dia santo de guarda a dor da separação, a saudade e as lembranças daqueles
e daquelas que fizeram parte de nossas vidas e não estão mais fisicamente entre
nós e que a ausência não foi capaz de apagar. Com certeza se fosse possível em
nossas celebrações criar neste dia um momento para a partilha sobre a
experiência da morte estas ideias de dor, ausência, saudade não faltariam. O
dia parece mais triste, mais silencioso, as pessoas se mostram mais sensíveis e
muitos tentam enganar-se a si mesmos dizendo ser um dia como outro qualquer,
mas igualmente esses também são atingidos por este clima. No inicio de nossa
celebração poderíamos questionar o porquê, qual o significado que a Igreja quer
alcançar celebrando a comemoração de todos os fiéis falecidos. A santa mãe Igreja, esposa de Cristo,
recebeu Dele mesmo o mandato de anunciar a todos os povos a Boa Nova do Reino e
de testemunhar o mistério Cristo. No centro deste mistério esta a vida, a vida
de Deus no meio dos seres humanos, a vida humana escondida no seio de Deus; a
vida que é um dom do Pai que passa neste mundo, mas não é apenas para este
mundo. No inicio da celebração exequial costumamos afirmar, “não estamos aqui
para recorda a tristeza da separação, nem reviver a dor do silêncio, aqui
estamos para celebrar a páscoa de Cristo e do irmão(ã) falecido (a)”. Sim! Hoje
não celebramos a morte, não queremos abrir novamente a ferida da dor da separação,
não queremos reviver a tristeza da saudade nem elevar um mero culto à memoria
dos mortos. Reunidos pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó – o Deus da vida e dos
vivos - queremos professar a fé na ressurreição, queremos afirmar de todo o
coração que a morte não venceu, que o tempo passou, mas aqueles que ela tirou
do nosso meio não estão com ela, estão em Deus, se com Deus nesta vida eles
buscaram viver. Este é o desejo da Igreja no dia de hoje, de anunciar a Boa
Nova do Reino dizendo que a morte não é vitoriosa, que somos cristãos porque
nosso Deus “por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi
sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras”. Na oração
coleta da santa missa ouvimos: “Ó Deus [...] aumentai a nossa fé no Cristo
ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos
vossos filhos e filhas”. Esta é a palavra forte de nossa celebração:
Ressurreição! É graças a este grande amor de Deus por nós que como Jó podemos
corajosamente dizer: “Eu sei que o meu
redentor está vivo[...] na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus
olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”(I leitura).Esta
contemplação não se dará numa simples visão ou por qualquer tipo de ritualismo,
se dá a cada dia quando congregados pelo Espírito Santo de Deus somos colocados
diante de sua majestade divina, celebrando os santos mistérios, “fazei isto em memória de mim” e
uníssono rezemos: “anunciamos Senhor a
vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!” e
movidos por esta esperança caminhamos desejosos de experimentar esta visão
definitiva que acontecerá quando formos chamar de volta a casa do Pai. A liturgia que ora celebramos nos recorda a
fragilidade humana e o ilimitado amor de Deus pela humanidade. Como homem e
mulher colocados no centro da criação e recebendo a ordem para dominar toda
criatura não devemos almejar o lugar de Deus. Mesmo dominando, somos criaturas
e não Criador. Somos o único ser que Deus desejou por nós mesmos, como
ensina-nos o Concílio Vaticano II. Temos uma força imensa, mas não somos
deuses; somos falíveis e passageiros neste mundo. E isto nos recorda todos os
dias a morte. Esta fragilidade é sustentada pelo amor de Deus que é eterno. Um
amor provado e comprovado em “Cristo que
morreu por nós, quando ainda éramos pecadores”(II leitura). Um amor que se
revela na vontade do Pai que não quer que
o Filho perca nenhum daqueles que Ele lhe deu, mas os ressuscite no último dia(Cf.
Evangelho).É graças a este amor que hoje continuamos desejando o céu,
recordando que não somos deste mundo. Que nesta celebração renovemos nossa fé
no Cristo e não busquemos, como cristãos que somos,a vida noutra pessoa ouem vãs
doutrinas interesseiras, materialistas ou que vivem fazendo barganha com Deus não
considerando que somos salvos pela graça D’Aquele que é nossa luz e salvação. Hoje recordando os nossos entes queridos,
que saibamos buscar nos aproximar de Deus recordando que também nós vamos
morrer, o que não deve nos levar ao desespero, antes nos conduzir a uma
vivência com o Cristo, pois “Nele brilhou
para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte
entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que creem em
vós, a vida não é tirada, mas transformada”(do prefácio dos fiéis defuntos
I).
Pe. Gonçalo Aranha dos Santos