
Concluído
o tempo pascal, retomamos o “Tempo Comum” que dentro da liturgia dá
continuidade às celebrações dos assim chamados “tempos fortes” (Advento, Natal,
Quaresma e Páscoa). É a caminhada histórica da Igreja, que vai pelo mundo
anunciando a Boa-Nova do Amor de Deus, manifestado em sua presença pelo
Mistério da Encarnação e a nossa salvação celebrada no Mistério da Redenção. A
tônica desses domingos está na vida de Jesus, seus milagres, seus encontros,
suas atitudes junto ao povo de seu tempo, remetendo-nos ao seu dia a dia, tempo
fundamental em que o Reino de Deus é construído, revelado e propagado.
O tempo comum é o espaço onde podemos conhecer mais de perto o
jeito de ser de nosso Mestre. Conhecer implica tempo, relação, aprofundamento e
uma vivência mais próxima. O tempo comum nos possibilita esta aproximação com o
Senhor e nos ajuda a perceber todo o mistério da salvação. Celebrar a cada dia
e, em especial aos Domingos, é a convivência, na liturgia, com a Palavra Viva,
que é o próprio Jesus.
Observando o jeito de ser de Jesus, vamos descobrindo que toda a
sua vida é salvífica e tende para o bem de toda a criação. Cada gesto do Mestre
descortina, diante do ser humano, a possibilidade da salvação e da felicidade
que só Deus mesmo poderia nos proporcionar.
O Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil, no
ano do Senhor de 2012, faz referência ao tempo comum da seguinte maneira:
"A tônica dos domingos do tempo comum é dada pela leitura contínua do
Evangelho. Cada texto do Evangelho proclamado nos coloca no seguimento de Jesus
Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito do fim
dos tempos. Neste tempo, também as festas do Senhor e a comemoração das
testemunhas do mistério pascal (Santa Maria, Apóstolos e Evangelistas e demais
Santos e Santas)”.
Uma referência bastante significativa que nos possibilita uma
compreensão ainda maior da riqueza do tempo comum, quando a celebração do
mistério pascal de Cristo, núcleo fundamental de nossa fé, é vivida e
comemorada também na vida de cada fiel e de cada comunidade.
Por meio do Ano Litúrgico e, dentro dele, o tempo comum, cada
pessoa é chamada a configurar a sua vida à vida de Cristo e Dele aprender a ter
os mesmo sentimentos que Ele teve. Mais, portanto, que uma simples repetição ou
lembrança de fatos acontecidos, a celebração da fé deve atualizar e alimentar a
vida dos batizados, tornando-se assim um caminho a ser percorrido e
experimentado.
O tempo comum é o tempo de tornar comum o mistério de Cristo em
nossas vidas. Ajuda-nos a perceber que Cristo é a realidade suprema e por
excelência que jamais pode faltar em nossa vida. Ele é a fonte que jorra e faz
brotar a vida para toda a humanidade. "Sem mim nada podeis fazer".
(Cf. Jo15, 5)
Por meio dos hinos, dos salmos, das leituras bíblicas, das preces
de súplica e louvor, da oferta generosa do povo de Deus que oferece suas
primícias ao Senhor, o fruto de seus trabalhos e esforços, celebramos o
mistério de Cristo. Uma salutar expressão de nosso caminhar pascal, percorrendo
desde o nascimento de Cristo até sua morte e Ressurreição, bem como a sua Vinda
Gloriosa e Definitiva.
É, pois, na celebração da Santa Missa, em todos os tempos de nosso
caminhar litúrgico, que celebramos a ação de Cristo e do povo de Deus
hierarquicamente organizado e ordenado à salvação, conforme suas condições
próprias, oferecendo-lhes mais intensamente os ensinamentos da vida de Cristo e
fazendo da celebração o centro de toda vida cristã, tanto para a Igreja
universal quanto para a Igreja local e para a vida de todos os seus fiéis.
Que o tempo comum, que há pouco iniciamos, seja, portanto, a
oportunidade de aprofundarmos o mistério de Cristo e de sua vida, de configurar
nossa vida à de Cristo mesmo e de nos tornarmos discípulos anunciadores,
missionários para que, olhando para o Cristo o mundo creia e possamos promover
juntos a civilização do amor, baseada numa cultura de solidariedade e partilha
onde todos, com o Cristo e o Pai, sejamos um.
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
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